Para o mundo, Amy Winehouse era a garota que quiseram mandar para a reabilitação e que disse “não, não, não”. Assim como a letra de Rehab, o hit com que ela estourou em 2007, tudo em sua imagem levava a crer que a cantora britânica vivia em um mundo completamente sem regras. Sua morte, em julho de 2011, era uma tragédia anunciada, que cada manchete dos tabloides ajudou a construir. Para o resto do mundo, a vida de Amy era qualquer coisa, menos tediosa. Mas era exatamente o oposto do que narra seu pai, Mitch, no livro Amy, Minha Filha, recém-lançado pela editora Record.
Na biografia, que tem como fio condutor a história do vício de Amy em drogas e cujo lucro se destina à Amy Winehouse Foundation, criada pelo pai logo após a morte da cantora para cuidar de dependentes químicos carentes, o que mais impressiona é a sensação de se tentar de tudo e não conseguir sair do lugar – em um ponto, ele se compara a um hamster em uma rodinha. As tentativas para livrar Amy das drogas, e mais tarde do álcool, que acabou por matá-la, foram tantas e tão cansativas que Mitch reconhece que nem ele aguentava mais a filha. “Eu precisava de férias dela”, afirma em uma passagem. Essa não é a única faceta de Amy mostrada no livro – o pai conta ainda vários detalhes de sua infância e de seu amor pelo jazz e pelas cantoras dos anos 1960 –, mas é a mais impactante.
O livro não traz nenhuma grande novidade, mas contextualiza os principais escândalos em que Amy esteve envolvida – e, na maioria das vezes, de maneira sincera. Em uma das passagens do livro, o pai conta que a cantora brigou com o produtor Mark Ronson porque ambos foram convidados para compor o tema de um filme de James Bond, mas não conseguiram por causa da irresponsabilidade da cantora com prazos. Em outra, narra com detalhes a noite em que Amy foi fotografada com arranhões pelo corpo após brigar com o então marido, Blake Fielder-Civil. Mas é claro que, em algumas explicações, Mitch prefere bancar o paizão ingênuo, como quando afirma que a imprensa armou para fotografar Amy nua no meio da rua ou quando culpa os traficantes por Amy não conseguir largar as drogas.
O início do livro, repleto de sentimentalismos, pode espantar o leitor, mas insistir na leitura compensa quando a história de Amy vai ganhando complexidade e outros personagens. Os mais importantes são Fielder-Civil e seus pais, apontados por Mitch como os vilões da história. Segundo o pai, foi o ex-marido quem apresentou Amy a drogas como heroína e crack – em seus primeiros shows, ela entrava no palco gritando algo como “Drogas pesadas não estão com nada”. Curiosamente, o ex-marido fica afastado de Amy em seus anos mais difíceis. Preso desde 2008 por agredir o dono de um bar e depois tentar suborná-lo, Fielder-Civil reaparece poucas vezes nos últimos anos de Amy – na última delas, é enxotado da casa da cantora a pontapés pelo sogro. No entanto, estava bem representado pelos pais, que segundo Mitch vendiam histórias mentirosas para os tabloides ingleses.
Se os Fielder-Civil são os vilões da história de Amy, Mitch não se esforça para parecer o herói. Pelo contrário: ele aponta os próprios erros no tratamento da dependência da filha. Além de ter recusado ajuda de profissionais logo que Amy começou a usar drogas (o famoso verso “Meu pai acha que eu estou bem”, de Rehab), o pai conta que chegou a dar bebida alcoólica à filha para evitar sintomas de abstinência e conseguir com que ela desse entrevistas e aparecesse na televisão. Embora assuma sua parcela de culpa no destino de Amy, Mitch nega especulações de que teria se aproveitado para lucrar com o sucesso da filha, inclusive se lançando como cantor – ele afirma ter trabalhado como taxista até perto da morte da cantora.
Por mais que soubesse que a vida da filha corria risco, Mitch não ficou menos abalado com sua morte – ele afirma acreditar que Amy lhe manda sinais por meio de pássaros e borboletas. No fim, o livro é o pedido de desculpas de um pai que errou – e que pai não erra?
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