O município paulista de Guarulhos acelerou o passo em direção à inclusão digital de pessoas com deficiência visual, motora, com Síndrome de Down e com Transtorno de Desenvolvimento Global (autismo). O projeto Guarux – criado em 2009 pelo Departamento de Informática e Telecomunicações da prefeitura – abriu caminho, em 2011, para softwares inclusivos e educacionais direcionados às pessoas com deficiência que frequentam as Unidades de Telecidadania (telecentros). “Customizamos uma distribuição de aplicativos específicos a partir do Ubuntu Linux”, explica Marcos da Paz, um dos coordenadores da iniciativa, que teve a participação de técnicos e gestores das coordenadorias municipais.
Os aplicativos foram desenhados depois de uma pesquisa de campo com o apoio de instituições do terceiro setor. Para sintonizar a tecnologia com as demandas da comunidade, foram aplicados testes sob o acompanhamento de especialistas. “Desenvolvemos 12 jogos e os próprios autistas escolheram seis, que estão em uso”, conta o coordenador. Esses games, por exemplo, auxiliam o desenvolvimento de crianças e adolescentes com deficiência intelectual.
Entre as ferramentas acopladas ao Guarux também estão uma interface que permite mover o mouse com o movimento da cabeça captado por uma câmera, leitores de tela que obedecem a comandos de voz ou que aumentam as letras, como as lupas – para usuários com dificuldades de visão – e uma lousa digital que pode ser projetada em qualquer superfície e tem uma caneta que escreve por meio de sinal infravermelho.
A versão Guarux com aplicativos especiais roda nos computadores das 27 unidades Telecidadania, distribuídas por todas as regiões de Guarulhos. “O diferencial com relação a outros telecentros é que aqui não deixamos um computador específico para deficientes. Essa opção está em todas as máquinas. É um padrão”, ressalta Paz.
A rede de Telecidadanias contabilizam mais de dez mil usuários cadastrados e aproximadamente 14 mil acessos mensais. A maioria dos moradores que frequentam os locais vem de bairros da periferia onde o único acesso à internet acontece em lan houses. As unidades também oferecem cursos básicos de informática. Neste ano, 1.500 pessoas foram formadas, inclusive pessoas com deficiência que participaram das capacitações usando os novos recursos. Monitores dos Telecidadanias e gestores da prefeitura receberam treinamento para multiplicar o Guarux. “O plano é ampliar essas capacitações até o ano que vem”, afirma Firmino Manoel, responsável pela Coordenadoria de Políticas para Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida do município.
Como o Guarux é uma distribuição em software livre, de código aberto, o projeto possibilita a adaptação para outras realidades. Os aplicativos podem ser utilizados por professores, profissionais da área da saúde que trabalham com pessoas que possuem deficiências, escolas e outras instituições públicas. É só baixar o programa em casa ou no trabalho. Sem pagar nada, para usar livremente.
Incorporado desde o início dentro da prefeitura, o Guarux está sendo usado hoje em cerca de mil computadores dos funcionários públicos, que antes utilizavam softwares proprietários. A implantação do sistema alternativo representou uma economia de mais de R$ 1 milhão aos cofres da cidade – desempenho que rendeu à prefeitura o Prêmio Mário Covas 2013 na categoria Destaque e Excelência no Gasto Público Municipal.
Para baixar
Além de cortar despesas com programas pagos, o Guarux foi lançado com o objetivo de atender a uma Instrução Normativa da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento, que estabelece diretrizes para desenvolver, distribuir e utilizar softwares públicos. Desde agosto, o Guarux está disponível no Portal do Software Público Brasileiro, onde é possível fazer o download gratuito dessa e de outras 60 soluções.
Novos serviços para pessoas com deficiência estão sendo tocados pela prefeitura de Guarulhos. Como o programa Superação, lançado em setembro de 2013, uma espécie de banco de dados com vagas e currículos que promete facilitar o encontro de candidatos com empresas que estão contratando. “É comum empregadores dizerem que não sabem onde estão essas pessoas. O sistema vai facilitar o contato dos empregados com os empregadores”, diz Manoel. O sistema eletrônico está hospedado no site da prefeitura.
Em breve o site também oferecerá o serviço de Língua Brasileira de Sinais (Libras) em tempo real, para atender pessoas com deficiência auditiva. Por meio de uma câmera, um intérprete vai fazer a ponte entre o usuário e o serviço público municipal de que ele necessita.
Com informações de ARede.